domingo, 20 de junho de 2010

SEGUNDO BIMESTRE


Olá, galera!

Aí vão os textos para a prova! É muito importante que todos leiam e deixem seus comentários!

Abraços,

Luciano.

O que é política?

Este é um tema bastante profundo e importante para discutirmos coletivamente. Vivemos hoje em um momento em que a política é questionada e desprezada, pois ela, muitas vezes, é confundida com as ações de alguns maus políticos.

Mas, afinal, O que é política?

O termo política é derivado do grego antigo e se refere a todos os procedimentos relativos à pólis, à Cidade-estado. Na Grécia antiga, em cidades como Atenas, os cidadãos livres participavam das assembléias para discutirem os problemas comuns a todos e tomavam decisões com o objetivo de solucioná-los.
Baseado nesta experiência, Aristóteles, um dos maiores sábios gregos, dizia que política é a ciência e a arte do bem comum. Para ele a cidade deveria ser governada em proveito de todos, e não apenas em proveito dos governantes ou de alguns grupos.

Segundo o filósofo, a política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em duas partes: a ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na Cidade-Estado, ou pólis), e a política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva). Dizia Aristóteles:

"Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras, tem mais que todas, este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política" (Pol., 1252a).

Tomás de Aquino, filósofo medieval, dizia que política é a arte de governar os homens e administrar as coisas, visando o bem comum, de acordo com as normas da reta razão. Para Nicolau Maquiavel, em O Príncipe, política é a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o próprio governo.

Segundo a autora Hannah Arendt, filósofa alemã (1906-1975), política "trata-se da convivência entre diferentes", pois "baseia-se na pluralidade dos homens". Segundo nos informa, a idéia de política e de coisa pública surge pela primeira vez na polis grega, mais especificamente em Atenas, considerada o berço da democracia. O conceito está intimamente ligado à idéia de liberdade que, para o grego, era a própria razão de viver.

Utilizando o conceito grego de política, Arendt nos diz que a política deve organizar e regular o convívio dos diferentes e não dos iguais. Para os antigos gregos, não havia distinção entre política e liberdade e as duas estavam associadas à capacidade do homem de agir em público, que era o local próprio do político.

A filósofa diz ainda:

"A política, assim aprendemos, é algo como uma necessidade imperiosa (imprescindível) para a vida humana e, na verdade, tanto para a vida do indivíduo maior para a sociedade. Como o homem não é autárquico, porém depende de outros em sua existência, precisa haver um provimento da vida relativo a todos, sem o qual não seria possível justamente o convívio. Tarefa e objetivo da política é a garantia da vida no sentido mais amplo".

Para ela, a tarefa da política está diretamente relacionada com a busca pela felicidade.

Podemos afirmar que o homem é um ser essencialmente político. Todas as nossa ações são políticas e motivadas por decisões ideológicas. Tudo que fazemos na vida tem conseqüências e somos responsáveis por nossa ações. A omissão, em qualquer aspecto da vida, significa deixar que os outros escolham por nós. Devido à desinformação ou desilusão relacionadas às suas expectativas, muitas pessoas dizem categoricamente que não gostam de política. Essas pessoas, não têm idéia do prejuízo que estão gerando para si mesmas e para o grupo social. Seria importante que todos compreendessem que seu desinteresse equivale a renunciar à cidadania.

Platão, o filósofo grego, discípulo de Sócrates dizia: - Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Simplesmente serão governados por aqueles que gostam.

Nossa ação política está presente em todos os momentos da vida, seja nos aspecto privado ou público. Vivemos com nossa família, nos relacionamos com as pessoas no bairro, na escola, somos parte integrantes da cidade, pertencemos a um Estado e País, influímos em tudo o que acontece em nossa volta. Podemos jogar lixo nas ruas ou não, podemos participar da associação do nosso bairro ou trabalhar como voluntários em uma causa em que acreditamos. Podemos votar em um político corrupto ou votar num bom político, precisamos conhecer melhor propostas, discursos e ações dos políticos que nos representam.

Não podemos pensar que política é somente o ato de votar ou aquilo que influencia um grande número de pessoas. Estamos fazendo política quando exigimos nossos direitos de consumidor, quando nos indignamos ao vermos nossas crianças fora das escolas sendo massacradas nas ruas. Conhecemos o Estatuto da Criança e do Adolescente? Ou o Código do Consumidor? A nossa Constituição? Respeitamos as leis de trânsito?

A política está presente cotidianamente em nossa vidas: na luta das mulheres contra uma sociedade machista que discrimina e age com violência; na luta dos portadores de necessidade especiais para pertencerem de fato à sociedade; na luta dos negros discriminados pela nossa "cordialidade"; dos homossexuais igualmente discriminados e desrespeitados; dos índios massacrados e exterminados nos 500 anos de nossa história; dos jovens que chegam ao mercado de trabalho saturado com de milhões de desempregados; na luta de milhões de trabalhadores sem terra num país de latifúndios; enfim, na luta de todas as minorias por uma sociedade inclusiva que, se somarmos, constituem a maioria da população. Atitudes e omissões fazem parte de nossa ação política perante a vida. Somos responsáveis politicamente (no sentido grego da palavra) pela luta por justiça social e uma sociedade verdadeiramente democrática e para todos.

Para atuar politicamente e, assim, influenciar o poder, cada cidadão e cidadã deve se conscientizar, informar-se, ouvir, ler, falar, debater, estudar e procurar formar sua opinião sobre os diferentes problemas. Com consciência política estaremos preparados para votar, fazer sugestões, acompanhar os trabalhos dos nossos parlamentares, exigir e reagir quando for necessário.


O ANALFABETO POLÍTICO - textos preferidos

"O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.

Nada é impossível de Mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.

Privatizado, privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.

Bertolt Brecht. Antologia Poética de Bertolt Brecht

FONTE: http://www.culturabrasil.org/brechtantologia.htm#O%20Analfabeto%20Político



Cidadania

Cristiane Rozicki (adaptado)

Cidadania, palavra derivada de cidade, estudada por Aristóteles, é melhor compreendida se pensarmos a cidade como o Estado. Desse modo entendida a cidadania, é possível dizer que, todo cidadão que integra a sociedade pluralista do Estado democrático, é senhor do exercício da cidadania, a qual, em síntese, é vocábulo que expressa um extenso conjunto de direitos e de deveres.

Em sua acepção ampla, cidadania constitui o fundamento da primordial finalidade daquele Estado, que é possibilitar aos indivíduos habitantes de um país o seu pleno desenvolvimento através do alcance de uma igual dignidade social e econômica. Assim, a palavra cidadania está intimamente ligada aos conceitos de igualdade e democracia e, portanto, à necessidade da eliminação de disparidades, discriminações e do incentivo à participação popular nas decisões do governo.


Política é cidadania

Mario Sergio Cortella

Existe uma tendência a excluir a relação direta entre política e cidadania, criando uma rejeição curiosa à política e valorizando cidadania, como se fossem termos diversos. Há um vínculo inclusive de natureza semântica entre as duas palavras, que, objetivamente, significam a mesma coisa.

A noção de política está apoiada num vocábulo grego, polis (cidade) e cidadania se baseia em um vocábulo latino correspondente, civitatem. Embora a origem etimológica seja diferente, os dois termos propõem que se pense na ação da vida em sociedade (ou seja, em cidade). Isso significa que não é possível apartar ou separar os conceitos.

Hoje, encontramos uma série de discursos, lemas e planos pedagógicos e governamentais que falam em cidadania como se ela fosse uma dimensão superior à política. Muito se diz que a tarefa da escola é a promoção da cidadania, sem interferência da política. Não se menciona o conceito de política, como se ele fosse estranho ao trabalho educacional; com isso, pretende-se dar à cidadania um ar de idéia nobre, honesta, de valor positivo. Sob essa ótica, política é sinônimo de sujeira, patifaria, corrupção. Claro que não é assim.

Ambas as palavras e ações se identificam. É preciso recusar a recusa do termo política no espaço educacional! Ainda temos essa rejeição ao conceito, como se ele pertencesse a uma área menos significativa e menos decente que a cidadania. Ora, não se deve temer a identidade dos conceitos, pois só assim é possível construir cidadania, no sentido político do termo: bem comum, igualdade social e dignidade coletiva.

Assim, é necessário debater a política e isso é debater a cidadania. Falar em política envolve também os partidos, mas não se esgota neles. É toda e qualquer ação em sociedade, portanto, toda e qualquer ação em família, em instituições religiosas e sociais, no mundo das relações de trabalho.

Num momento em que nosso país caminha para um revigoramento do processo democrático, não é aceitável – porque poderá ganhar um ar conservador e até reacionário – admitir que é princípio da escola "não meter-se em política". Ao contrário, é porque se meterá em política que a cidadania se reinventa. Porém, não é tarefa da escola a promoção da política partidária, porque partido ou é uma questão de foro íntimo ou deve se dar nos seus espaços próprios. É imprescindível levar esse tema para o debate no projeto pedagógico da escola, sem assumir um viés partidário e sem, porém, invisibilizar o conhecimento das múltiplas posturas.

Há uma diferença entre partidarizar e politizar. Mas a política, no sentido amplo de cuidar da vida coletiva e da sociedade, é sim obrigação escolar e componente essencial do currículo. Não pode a escola furtar-se ao mundo da política, porque isso implicaria diretamente na impossibilidade da cidadania.

Mario Sergio Cortella é Professor de pós-graduação em educação (Currículo) da PUC-SP.